Por Ricardo Patah*
O Brasil precisa fazer uma reforma previdenciária, é\r\nclaro. Estamos de acordo. Mas a nossa prioridade não é a mesma dos ministros do\r\npresidente Michel Temer. Eles anunciam, com certo ar de provocação, que o\r\nsistema só se salvará com a implantação de uma idade mínima de aposentadoria de\r\n65 anos.
Nós defendemos que o único caminho viável é o\r\ngoverno apresentar um orçamento de seguridade social, como determina a\r\nConstituição de 1988. E ser transparente, o que é sempre imprescindível.
Que fique bem claro, os trabalhadores não são\r\nresponsáveis pelos desacertos da Previdência Social. Não podem pagar a conta,\r\nportanto, como quer o governo.
Se a idade mínima for implantada, isso significará,\r\npor exemplo, que no Estado de Alagoas, em que a média de vida é de 66,8, a\r\nmaior parte das pessoas não vai se aposentar. Terá que morrer trabalhando.\r\nSituação quase idêntica, com algumas pequenas diferenças, pode também ocorrer\r\nno Maranhão (67,6), no Piauí (68,9) e na Paraíba (69).
É importante destacar que a inserção no mercado do\r\ntrabalho na França, por exemplo, começa em média aos 24,5 anos -depois,\r\nportanto, de concluída a faculdade e escolhida a profissão. Aqui no Brasil, um\r\npaís pobre e de grande desigualdade social, as pessoas já trabalham desde os 16\r\nanos, muito cedo e sem tempo para estudar.
Todo mundo sabe que somos um país muito mal\r\nadministrado. A Previdência Social é uma prova disso. Dizem que é deficitária,\r\nmas não é verdade. Os números da seguridade social são positivos. Acumularam,\r\nde 2007 até 2015, um saldo de R$ 439,503 bilhões.
E seriam ainda maiores, é bom que se diga, se fossem\r\nconsideradas as desonerações e renúncias fiscais que, no mesmo período,\r\nchegaram a R$ 735,920 bilhões. A coisa não para por aí: a Receita Federal\r\nprojeta, para este ano, R$ 143,182 bilhões de desonerações do orçamento da\r\nseguridade social. É dinheiro que não entrará nos cofres da Previdência.
A Constituição de 1988 determina que a receita e as\r\ndespesas da seguridade social devem formar um orçamento próprio, separado,\r\nportanto, do orçamento fiscal do governo. Como a lei não é obedecida, embaralha-se\r\ntudo. Fica fácil montar uma gigantesca farsa contábil.
Segundo se divulga, o déficit da Previdência é\r\ncrescente há mais de 20 anos. Ano passado, estaria em R$ 85 bilhões. Atingiria,\r\nagora em 2016, algo próximo a R$ 150 bilhões.
Pois bem, só com a dívida que a Previdência tem a\r\nreceber, R$ 236 bilhões, já seria possível cobrir o rombo. Outro grande ralo é\r\na falta de fiscalização para aperfeiçoar a gestão, além do controle dos bens da\r\nPrevidência, como imóveis e outros tipos de propriedades.
Uma das principais ações para sanar as contas da\r\nseguridade social, e as do próprio governo, seria a criação de dois fundos: o\r\ndo Regime Geral da Previdência Social e o do Conselho de Gestão Fiscal, com a\r\nparticipação de trabalhadores e empresários.
Não resta dúvida de que as mudanças demográficas\r\nprecisam ser acompanhadas com muito cuidado. Essa janela, segundo estudos que\r\ntemos em mãos, só começa a se fechar, no Brasil, entre 2025 e 2030. A nossa\r\npopulação de idosos, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de\r\nDomicílios), é da ordem de 13%. Nos países mais desenvolvidos, esse percentual\r\nchega a 30%.
Portanto, ainda não é a transição demográfica que\r\nestá criando o atual déficit da Previdência. Antes de estabelecermos uma idade\r\nmínima, temos que melhorar o sistema de gestão previdenciário.
*RICARDO PATAH, 62, pós-graduado em administração\r\npela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é presidente nacional da\r\nUGT - União Geral dos Trabalhadores
\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n\r\n
MANIFESTO DA CNTC À PROPOSTA DE REFORMA DA PREVIDÊNCIA
A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio – CNTC, entidade representativa de cerca de 12 milhões de trabalhadores no comércio e de serviços, demonstra grande preocupação com o conteúdo da Proposta de Emenda à Constituição nº 6, de 2019, que altera substancialmente as regras do Sistema Previdenciário impactando diretamente os trabalhadores no comércio e serviços ao restringir as expectativas de direito do trabalhador ter acesso aos benefícios previdenciários, com aumento draconiano da contribuição previdenciária mensal, além de aumento radical do tempo de contribuição.Defendemos...
Governo vai retomar pente-fino no INSS na próxima segunda-feira
O governo vai retomar o pente-fino em benefícios do INSS na próxima segunda-feira. Depois de o Congresso não votar uma medida provisória enviada ainda no governo interino e tampouco um projeto de lei com regime de urgência sobre a questão, o presidente Michel Temer editou uma nova medida provisória na última sexta-feira para voltar as revisões em auxílios-doença e aposentadorias por invalidez. A MP 739, enviada pelo governo em julho, determinava revisão de 1,2 milhão de aposentadorias por invalidez e 530 mil auxílios-doença, incluindo pagamento de R$ 60 por consulta de...
Vendedora de cartões de crédito das Lojas Marisa consegue ser enquadrada como funcionária
Uma trabalhadora das Lojas Marisa S. A. que tinha como atividade oferecer cartões de crédito e empréstimos para os clientes conseguiu na Justiça do Trabalho seu enquadramento sindical na categoria dos financiários, fazendo jus à carga horária e benefícios da categoria. A Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do recurso da Marisa , o reconhecimento do vínculo e o enquadramento na categoria foram resultados da constatação de que os serviços prestados pela vendedora se inseriam nas atividades...